sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Tamancos e engrenagens

Há um destaque importante sobre a Revolução Industrial (sec. XVIII, XIX), as péssimas condições laborais, dentre estas a mais perniciosa era a admissão de crianças no chão de fábrica, principalmente pelo fato de que o trabalho infantil se destinava a atender uma demanda terrível dos patrões, isto é, uma criança conseguia entrar nas máquinas de tear, em meio às facas e outros instrumentos letais, e realizar tarefas (troca de facas, emendas em fios de linha, etc). Nestas tarefas as crianças feriam-se, perdiam membros, morriam.

Quando as condições tornavam-se insuportáveis havia um remédio utilizados pelos operários, na Europa Central: o tamanco. O processo consistia em colocar um tamanco de madeira entre as engrenagens, a emperrá-las. O nome francês para tamanco é sabot, de onde deriva o termo sabotagem.

Trazendo o assunto ao tema do blog, menciono a situação em que uma mulher foi empurrada para os trilhos do metrô por um homem esquizofrênico, o qual foi reconhecido e denunciado por comportamentos agressivos diversas vezes (segundo a TV Globo foram 24 denúncias a partir das imagens publicadas em telejornal).

A questão é que o doente não recebeu os cuidados necessários e, por conta disto, a população fica à mercê de seus surtos violentos. Não há como prevenir tais eventos. Preocupa-me a quantidade de pessoas nas mesmas condições psíquicas do agressor em destaque.

As engrenagens do Sistema de Segurança Pública estão sujeitas a muitas possibilidades de “emperramento”, principalmente quando se adota o lamentável equívoco de que Segurança Pública é assunto exclusivo de Polícia. No evento envolvendo o rapaz esquizofrênico há campo para outros responsáveis institucionais que nem de longe estão afetos, diretamente, ao trabalho policial, como o setor de saúde, por exemplo.

Existem muitos “tamancos” que impactam, negativamente, o sistema de segurança pública, a má qualidade da educação formal, a falta de moradia digna, o desemprego, as condições sociais, os valores cultuados no Brasil contemporâneo, etc.

Aos policiais resta o trabalho de passar pelas engrenagens enferrujadas, esquivando-se – quando possível – das facas e eixos pontiagudos e tentar, “tentar”, emendar situações, problemas, conflitos, ocorrências...

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