segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Gestual identificador e significativo

As mensagens podem ser expressas de várias formas, por grafos, por sons, por matizes, pelo gestual. Discursos que traduzem grupos tendem a ser mais poderosos, como no caso de cardumes onde os peixes ficam muito próximos, ordem unida, e pretendem comunicar, com seu bailado, que ali há um corpo enorme, a intimidar possíveis agressores. Nem todos acreditam na farsa destes cardumes...

O texto que trago ao blog me assusta, não pela farsa, mas pelo atrevimento institucional. Um deputado comunica, gestualmente, seu repúdio à Justiça Brasileira. Discurso de um braço levantado, orquestrado e disseminado por condenados pelo Supremo Tribunal Federal.

O gesto lembra, na forma, o anelo de atletas afro-americanos pela igualdade entre pessoas de tons de pele diferentes. Entretanto Tommie Smith e John Carlos buscavam expressar seu repúdio por um sistema que lhes negava o poder de serem considerados seres humanos em sua plenitude, isso em 1968, hoje, dentre outras conquistas, Barak Obama, uma afro-americano, está na Casa Branca.



A saudação do Deputado Federal André Vargas, apesar de muito parecida no significante, evoca um significado diametralmente oposto. Esta percepção, de minha parte, advém de dois fatores, a afronta ao Estado de Direito e, consequentemente, a intenção de Hegemonia.

A condição de parlamentar, in tese, permite expressar-se livremente e, com isso, afrontar o Presidente do Supremo Tribunal Federal, sendo que o ato, simbólico, não investe contra o Ministro Joaquim Barbosa e sim contra o Poder Judiciário. Sem Poder Judiciário não há Democracia.

A intenção de hegemonia emerge da indisposição de um grupo partidário por um ato de ofício, da Suprema Corte, em desfavor de um colega de legenda, ou seja, não importa o que o amigo fez, importa sim que é amigo, e, neste diapasão, se tiver que torcer o Direito, que assim seja, inclusive à custa da farsa da “vaquinha” para atenuar uma “injustiça” cometida pela Suprema Corte (importa destacar que dos 11 ministros, 8 foram indicados pelo mesmo partido político dos condenados e do deputado André Vargas).

A busca por hegemonia, além de outros fatores, caracteriza a doutrina de uma outra agremiação partidária do século passado, que adotou uma saudação característica (...e a gente tem se cumprimentado assim...) muito semelhante, inclusive na afronta ao sistema que “deveria ser suplantado”. Um tem o braço esquerdo erguido, o outro tem o braço direito erguido, em frente ao espelho seria o mesmo braço.



O gestual do Deputado, além da grosseria (...O ministro está na nossa Casa. Na verdade, ele é um visitante, tem nosso respeito, mas estamos bastante à vontade para cumprimentar do jeito que a gente achar que deve...), constitui-se num exemplo que nada contribui com a manutenção da ordem pública, uma manifestação de contrariedade com a Força do Direito, alinhando-se, de forma sub reptícia, ao Direito da Força.

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