As
mensagens podem ser expressas de várias formas, por grafos, por sons, por
matizes, pelo gestual. Discursos que traduzem grupos tendem a ser mais
poderosos, como no caso de cardumes onde os peixes ficam muito próximos, ordem
unida, e pretendem comunicar, com seu bailado, que ali há um corpo enorme, a
intimidar possíveis agressores. Nem todos acreditam na farsa destes cardumes...
O
texto que trago ao blog me assusta, não pela farsa, mas pelo atrevimento
institucional. Um deputado comunica, gestualmente, seu repúdio à Justiça Brasileira. Discurso de um braço levantado, orquestrado e disseminado
por condenados pelo Supremo Tribunal Federal.
O
gesto lembra, na forma, o anelo de atletas afro-americanos pela igualdade entre
pessoas de tons de pele diferentes. Entretanto Tommie Smith e John Carlos
buscavam expressar seu repúdio por um sistema que lhes negava o poder de serem
considerados seres humanos em sua plenitude, isso em 1968, hoje, dentre outras
conquistas, Barak Obama, uma afro-americano, está na Casa Branca.
A saudação do Deputado Federal André Vargas,
apesar de muito parecida no significante, evoca um significado diametralmente
oposto. Esta percepção, de minha parte, advém de dois fatores, a afronta ao
Estado de Direito e, consequentemente, a intenção de Hegemonia.
A condição de parlamentar, in tese, permite expressar-se
livremente e, com isso, afrontar o Presidente do Supremo Tribunal Federal, sendo
que o ato, simbólico, não investe contra o Ministro Joaquim Barbosa e sim
contra o Poder Judiciário. Sem Poder Judiciário não há Democracia.
A intenção de hegemonia emerge da indisposição de um grupo partidário por um
ato de ofício, da Suprema Corte, em desfavor de um colega de legenda, ou seja, não importa o que o amigo fez, importa sim que é amigo, e,
neste diapasão, se tiver que torcer o Direito, que assim seja, inclusive à
custa da farsa da “vaquinha” para atenuar uma “injustiça” cometida pela Suprema
Corte (importa destacar que dos 11 ministros, 8 foram indicados pelo mesmo
partido político dos condenados e do deputado André Vargas).
A busca por hegemonia, além de outros
fatores, caracteriza a doutrina de uma outra agremiação partidária do século
passado, que adotou uma saudação característica (...e a gente tem se
cumprimentado assim...) muito semelhante, inclusive na afronta ao sistema que “deveria
ser suplantado”. Um tem o braço esquerdo erguido, o outro tem o braço direito
erguido, em frente ao espelho seria o mesmo braço.
O gestual do Deputado, além da grosseria (...O
ministro está na nossa Casa. Na verdade, ele é um visitante, tem nosso
respeito, mas estamos bastante à vontade para cumprimentar do jeito que a gente
achar que deve...), constitui-se num exemplo que nada contribui com a
manutenção da ordem pública, uma manifestação de contrariedade com a Força do
Direito, alinhando-se, de forma sub reptícia, ao Direito da Força.
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