Jane
Jacobs foi uma autora canadense, radicada nos EUA, que escreveu “Vida e morte
das grandes cidades”, uma obra de grande valor, muito importante para quem quer
aprender sobre o assunto crime e violência no ambiente urbano.
O livro
é de 1961, feito com base em estudos realizados pela autora na década de 1950,
entretanto é atual e, de certa forma, profético em relação à realidade
brasileira nos grandes assentamentos urbanos.
A respeito
da insegurança pública generalizada, nas grandes cidades, a pesquisadora elenca
três soluções adotadas, duas pelo Estado e uma pelos cidadãos.
A primeira
é estatal e pode ser definida como “deixa como está para ver como é que fica”,
presente nos conjuntos habitacionais, para pessoas com baixa renda. Esta prática
caracteriza-se pelo abandono estatal, os moradores se defendem como podem.
A segunda
forma de resolver a sensação de insegurança é trancar-se, no livro Jacobs
utiliza o exemplo dos automóveis como “células de sobrevivência”, isto é, as
pessoas se trancam em seus carros em virtude de que há perigo generalizado nos
espaços urbanos públicos, pelo menos este é o senso comum. As caminhadas em
locais ermos são evitadas, especialmente à noite, e os trajetos são realizados “dentro”
de veículos fechados.
O foco
da terceira forma de lidar com a violência é um trabalho conjunto entre Estado
e gangues, a de delimitação de territórios. Num dos exemplos a autora narra o
acordo entre a prefeitura e os líderes de gangues violentas, em que o espaço
urbano público foi “setorizado” de acordo com os “territórios” dos grupos, os
integrantes foram cientificados que havia risco em ultrapassar os limites dos
rivais...
Podem
ser observados os três exemplos de soluções para conter a violência e o crime,
como dito anteriormente, na São Paulo contemporânea.
Nos
conjuntos habitacionais é patente o descaso estatal e o abandono à própria sorte
dos moradores, lamentável. Os veículos como “células de sobrevivência” foram substituídos,
sob o mesmo conceito prático, pelos condomínios fechados, ultimamente pelos
condomínios totais (no mesmo espaço físico delimitado há moradia, trabalho e
lazer). As fronteiras entre as tribos também estão em moda, por vezes com
setorização informal – principalmente nas periferias -, mas com os mesmos
resultados.
Apesar
dos esforços parece que a patologia urbana da hipermodernidade, insegurança
pública, se robustece a cada minuto e impõe novas rotinas a todos.
Com a
palavra a escritora:
“Talvez nos tenhamos tornado um povo tão displicente, que não mais nos importamos com o funcionamento real das coisas, mas apenas com a impressão exterior imediata e fácil que elas transmitem.”