quinta-feira, 24 de abril de 2014

A indignação comunitária e a justiça imediata

 O caso dos turistas que picharam uma pedra no Guarujá/SP e que acabaram pichados indica que a "paciência comunitária", está esgotada.

Parece que as pessoas estão "no limite" e qualquer ação desencadeia uma reação em cadeia em avalanche, levando tudo e todos que venham pela frente. Não é o caso de julgar o episódio dos pichadores e dos ambientalistas, mas constatar que a qualquer momento a massa pode manifestar-se violentamente.

Há algum tempo, o ato dos jovens teria passado despercebido, aliás o Presidente da Sociedade de Amigos da Praia Branca informou que é uma prática corrente a pichação, nesta praia. Pois bem, no dia 20/04/14 a história foi diferente. A multidão se enfureceu e foi às forras, ou seja, pintaram o casal.

Esta situação se junta àquela dos moradores de Santa Catarina expulsando invasores de terras. E há outros paralelos, como o do grupo carioca que amarrou um ladrão num poste, no Aterro do Flamengo.

A polarização entre o "pessoal do bem revoltado" e o "pessoal do mal acintoso" preocupa. Preocupa em razão de que o Estado está alheio, ao menos durante os entreveros – cada vez mais frequentes – entre os antagonistas.

Até agora a superioridade numérica foi uma constante, a favor do pessoal do bem, mas haverá um momento – por uma questão de tempo – em que as forças estarão equiparadas...

Quando houver dois grupos de pessoas, antagônicos, com forças parecidas teremos uma batalha campal, ou várias batalhas pelo país...



Mas mesmo antes da chegada das batalhas campais há outro sinal de alerta, talvez mais grave, a JUSTIÇA IMEDIATA, em outras palavras, bateu levou.

Quem determina os limites da retaliação?

O fato do Estado situar-se aquém das expectativas de quem se sente agredido pelas atitudes dos pichadores e dos próprios pichadores que foram hostilizados, demonstra um processo de "exclusão institucional", cada ocorrência deste tipo pode ser entendida como um atestado de óbito para o Estado.

Se o Leviatã não inibe a "guerra de todos contra todos", a que se presta o Estado?

terça-feira, 22 de abril de 2014

De onde se tira e não bota, um dia fica com nada


Até aí tudo normal, pois todos os preparativos para o grande evento estão “meio que” atrasados, sendo assim, seria exigir demais que mais este “detalhe” fosse diferente do resto...

A questão preocupante é o famoso “plano ‘B’”, ou seja, o que fazer quando todo planejamento não ocorreu conforme o previsto? Lá vem a resposta mágica:
Se não houver seguranças suficientes prontos a tempo, o plano de contingência do Comitê Organizador Local da Copa (COL) é que forças de segurança pública assumam a função

Em lugar de forças de segurança pública leia-se Polícia Militar.

É bom lembrar que quanto mais policiais militares estiverem a serviço da segurança interna dos estádios, menos patrulheiros teremos nas ruas.

Vamos rever alguns “planos ‘B’”:

Problema
Plano “B”
Autoridades sentem-se inseguras em seus gabinetes
Policiais militares para guardá-los
Organizar (todas) as campanhas de saúde pública
Policiais militares para o apoio
As crianças do ensino fundamental precisam aprender a dizer não às drogas e à violência
Que se preparem policiais militares para ensiná-los
Pode ser que um dia os condutores dos trens do metrô entrem em greve
Que se instruam policiais militares para substituí-los
etc etc etc
idem

A lista poderia receber novas situações-problema ad infinitum, entretanto a solução continuaria única, ou seja, tirar de onde não se botou...

A matemática indica que de onde se tira e não bota, um dia fica com nada, no caso específico, de onde se tira policiais para segurança interna para estádios de futebol e não se bota patrulheiros, a população fica sem policiamento ostensivo preventivo suficiente.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Povo versus Militantes?

A notícia do sítio eletrônico TERRA dá conta de que moradores expulsaram invasores do movimento AMARILDO DE SOUZA, que acamparam junto a uma rodovia e um campo de golfe. O mesmo ocorrido, narrado pelo  UOL, mais detalhado, aponta – pela fala dos atores do episódio – alguns aspectos práticos e outros ideológicos.

O texto, mais minucioso, informa a presença ativa de dois universitários da UFSC e de um integrante do Sindicato dos Bancários, a demonstrar a identificação ideológica unindo setores/militantes da esquerda. Segundo estas pessoas a população foi “usada” pelo Estado para expulsá-los.

O Estado, por via de um Coronel da PMSC, nega qualquer ação no sentido de insuflar moradores para combater os invasores, inclusive com a narração de que teve que conter os moradores, a prevenir piores consequências.

É possível, como no exemplo dos Black Blocs remunerados pela Sininho, que populares foram estimulados por algum tipo de recompensa, já que os invasores estavam próximos a um campo de golfe. Também é possível que os moradores tenham se indignado por algumas atitudes dos invasores, não sei.

É curioso o fato de que os invasores, preparados militarmente atrás de barricadas, esperavam que a Força Policial atuasse na reintegração de posse e, talvez por conta disto, não imaginaram um ataque por parte da população.

Outro ponto interessante no texto é a informação de que, expulsos, os invasores se dirigiram para uma área indígena, a Palhoça, anteriormente ocupada.


Deixando de lado a politização do evento, me volto para o prenúncio de embates mais graves, me parece bem plausível que ocorram mais ataques violentos entre moradores/população e invasores/militantes.

Será este o primeiro enunciado, inequívoco, de que a população está cansada de eventos "criados" ideologicamente?

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Segurança pública e desenvolvimento urbano, mais um exemplo português

Primeiro parágrafo da introdução do manual do programa portuguêsde segurança pública e desenvolvimento urbano, focado em CPTED (Prevenção do crime através do espaço construído):


Em Portugal, na orientação político-programática prevalecente na última década e meia, a segurança dos cidadãos e da propriedade e a manutenção da ordem e da tranquilidade públicas deixaram de ser equacionadas em exclusivo como um assunto das instituições públicas de controlo formal, nomeadamente da Polícia de Segurança Pública. A segurança é agora encarada como um bem público, reconhecendo-se que para sua concretização, contribuem múltiplos factores e agentes, tanto públicos como privados. No limite, e ao nível da génese dos problemas de criminalidade e insegurança pública que se manifestam no dia a dia, podemos assumir que os actores mais diretamente responsáveis pelas políticas e práticas do desenvolvimento social e urbano podem contribuir mais para a profilaxia criminal do que as forças de segurança.

domingo, 13 de abril de 2014

A volta à São Paulo no domingo à noite

Neste domingo à noite o trânsito, em uma das estradas rumo à cidade de São Paulo, me convidou a algumas ponderações.

De início o caos me mostrou – por via do engarrafamento – que vinte veículos não ocupam o mesmo lugar no espaço, simultaneamente.

Depois eu percebi que uma sirene, sem boa vontade, não é muito eficaz. Se uma ambulância pede passagem, ao acionar seus sinais sonoros, e os motoristas se sensibilizam, o caminho se abre. Entretanto, quando uma viatura policial tenta progredir no terreno, com sua sirene ligada, e não há boa vontade dos condutores, a missão é praticamente impossível.

Outro fato pitoresco, quando uma viatura força caminho entre veículos é possível que um dos motoristas veja nessa situação uma oportunidade de chegar mais rápido ao seu destino final, ou seja, passa a seguir – na maior cara-de-pau – os policiais.

Se a distância/tempo entre ponto A e B é desfavorável ao motoqueiro, a solução é atravessar por sobre as pistas, usando a passarela destinada aos “pedestres”, ainda que, em alguns momentos, as pessoas tenham que se espremer para a moto passar. A regra permanece em vigência mesmo que o percurso sobre a passarela ocorra no exato momento em que uma viatura policial está logo abaixo, parada no trânsito, não há motivo, deve pensar o motoqueiro, para parar ou desistir, afinal a metade do caminho já havia sido transposta.

Ao observar as situações mencionadas chego à conclusão de que é a este contexto que nos referimos ao falar sobre inversão de valores. Em outras palavras, não há nenhuma grande conspiração aparente, nenhum motim generalizado, que traga preocupação, ou ainda, que denuncie a cultura da violência, mas sim o somatório de atitudes cotidianas adotadas pela esmagadora maioria.

Fica mais transparente, a cada dia, a adoção da desordem como forma de obter vantagem, em todos os aspectos da vida cotidiana.

Um cabo-de-guerra à beira do abismo

Mais drástico/bombástico que o título desta postagem é a situação de policiais militares que se sentem inseguros paraexercer sua profissão nas UPPs do Rio de Janeiro. A nota dá conta de que o crime organizado está medindo forças em duas frentes, bem definidas (entre si e com a Polícia Militar). Um cabo-de-guerra aos moldes de uma guerra santa, que só termina quando um dos lados desaparece...



Pelo texto depreende-se que a população está subjugada, sem chances reais de reagir com alguma possibilidade de sucesso.

Me parece que ainda não está claro para a sociedade brasileira que a PM é a última linha de defesa entre os criminosos e a população, em outras palavras, se um dia a PM estiver inerte o controle será total e a barbárie não conhecerá, irremediavelmente, limites.

A atuação de setores importantes alinha-se, possivelmente de forma involuntária – mas sistematicamente -, contra ações policiais-militares, o que significa, em última análise, que, ao retirar o apoio à Polícia, a força moral e a legitimação sociais estão colocadas à disposição de organizações criminosas.

No caso em questão, digo que observar o que acontecerá equivale a tomar partido, em desfavor da PM...


A continuar o processo mencionado as chaves do galinheiro serão entregues às raposas, para disporem de suas vítimas como bem entenderem.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Mais uma disciplina para o currículo escolar: cultura de violência (teoria e prática) PARTE II

Junta-se ao vídeo referido neste blog em 20/04/13, mais um registro midiático de violência entre adolescentes em ambiente escolar – uma situação dentro da sala de aula e outra próxima à entrada da escola.

Duas “amiguinhas” se juntam para espancar a colega de classe. As explicações dão conta de que a vítima era bonita, e esse atributo físico atiçou a ira das agressoras.

Em outra situação um rapaz intercepta a garota e lhe aplica outra surra, aos moldes do que se vê em lutas de vale-tudo. O vídeo é semelhante a outra briga entre alunas registrada neste blog.

A notícia lembra a ação da senhora da Casa Grandequando percebia olhares, de seu marido, a alguma jovem negra da senzala.

Conta a história que o feitor/capataz recebia ordem para quebrar os dentes da mulher (notem bem, não se trata de arrancar dentes e sim quebrar dentes); a intenção, além do castigo dolorido por seus atributos de beleza, era destruir o sorriso da moça e torná-la repugnante ao senhor.




Parece que a barbárie e a cultura da violência se instalam e se estabelecem com maior capilaridade e com requintes de perversidade.

Destaque para o registro, pelos alunos, das cenas de selvageria, especialmente pelo fato de que ninguém se solidariza com a vítima, nem com os agressores, simplesmente gravam tudo para depois “jogar” na internet, para o entretenimento da galera...

terça-feira, 8 de abril de 2014

“Para que precisa de Polícia?”

Já diziam os Titãs, nos idos dos anos oitenta, que a Polícia pode parar, que pode prender... Mas a letra (que altera em significado os significantes "letra" e "fonemas"), trazia uma mensagem nada oculta: “PARA ‘QUE’ PRECISA DE POLÍCIA?”. Em outras palavras, a fala era de que a Polícia é nociva e sem utilidade.

Pensei no assunto recentemente, quando li – via jornal de papel – algumas palavras trocadas entre um Comandante e um Repórter Policial. Parece-me que se tratava - a questão - da transferência de policiais.

O assunto, em si, não me chamou a atenção, mas a forma pela qual o Repórter replicou ao Comandante, essa sim despertou meu interesse blogueiro.

O policial explicou, administrativamente, questões administrativas, entretanto o repórter lançou mão de um estratagema surrado/populista, porém significativo a uma boa parte da população: a “culpa original” da Polícia.

Acabo de cunhar o termo (culpa original) em referência à Polícia, o qual sempre segue em desfavor de Eva (a esposa de Adão). Ah, se não fosse Eva...

Voltando ao assunto, destaco que, escapando da questão principal, o profissional da informação traz à baila números estatísticos, dando conta de que o crime e a violência aumentaram, e..., nada mais a dizer... A continuação da mensagem fica por conta do leitor, a juntar o aumento nos índices criminais à Polícia. A culpa é da Polícia, ou seja, se há crime e violência é claro que a Polícia é culpada. E acaba o assunto, nada mais a dizer...

A responder a provocação dos Titãs, digo que, para algumas pessoas, a Polícia se presta a expiar a má gestão da coisa pública, mesmo a privada em alguns casos, de todos os bois que se deixam escapar no momento da nomeação. Outra “utilidade” é lembrar à comunidade a “culpa original”, nos dizeres “com a palavra as vítimas [infiro eu: de todos os crimes e efeitos da violência] e os seus familiares”.


Segurança Pública é o resultado de um contexto de acolhimento ao cidadão em todas as esferas de vivência (trabalho policial, saúde, espaço urbano público, educação, co-presença, etc).

segunda-feira, 7 de abril de 2014

A vida oculta dos edifícios

Recomendo aos amigos deste Blog o documentário inglês sobre os efeitos da morfologia das construções civis, nos seres humanos (nas moradias, no ambiente de trabalho e no lazer).

Muito interessante a abordagem de assuntos afins ao tema que temos desenvolvido.

Nesta série de três episódios, o crítico de arquitetura Tom Dyckhoff analisa como o design das construções pode afetar as pessoas em casa, no trabalho ou na rua.


sábado, 5 de abril de 2014

Tempos de edição de textos/imagens

Imediatismo e urgência marcam, profundamente, a hipermodernidade (o que é atual agora será obsoleto em breve). Questões cotidianas são afetadas pelo conceito de que as práticas devem ser resolvidas “ontém”. Não se leva em consideração o “depois”.

No mundo natural, palpável, tudo obedece, rigorosamente, a lei causa-efeito, tudo que conhecemos teve uma causa e todas as causas produzem, inexoravelmente, efeitos. Um exemplo bem conhecido, e aplicável a esta argumentação, é o conceito fast-food de alimentação, que produz efeitos na saúde.

Outro aspecto, muito comum, é o imediatismo das informações. Normalmente não há tempo para esclarecimentos, exposições de relações causa-efeito. As imagens impactantes resumem-se a segundos televisivos. Declarações, a estabelecer “verdades definitivas[i]”, são obtidas a partir de edições do que foi gravado há poucos instantes e “tem” que ir ao ar imediatamente.

Ao que tudo indica, o imediatismo nas informações impõe um padrão cultural. O padrão de observar, descrever e analisar rapidamente.

Ocorre que observar, descrever e analisar a partir de “edições”, além de não refletir com honestidade a realidade, implica em destacar as opiniões do compromisso causa-efeito.

Ao abordar determinado assunto de forma imediata há o descaso com as decorrências, ou seja, quais as implicações do que está sendo dito/afirmado? Chega-se às raias da irresponsabilidade, a tratar temas de relevância social como assuntos de menor importância. O que é perceptível, terrivelmente, nos comentários e afirmações afins à Segurança Pública.

Quando se observa a “edição” de presos em espaços superlotados não há como negar as condições degradantes e desumanas que o Estado impõe aos detentos, mas a conversa não pode terminar neste ponto, faz-se necessário que o assunto seja tratado com responsabilidade e, neste diapasão, prosseguir na argumentação com a exposição de propostas e, sobretudo, quais os desdobramentos de tais propostas.

A continuar a linha do raciocínio, a soltura imediata de todos os injustiçados pelo Sistema Carcerário pode provocar graves consequências à população, em geral, que ficará exposta à ação dos criminosos soltos, que juntar-se-ão àqueles que ainda não foram presos, ou seja, quem assume os riscos disso?

Não é razoável resolver questões complexas sem antes prever as consequências das soluções propostas, de forma sistêmica, ou seja, entender as interligações e as decorrências.

O combate ao crime tem sido comentado, e proposto, com base em edições e sugestões rápidas. As imagens produzidas pela edição de partes do que ocorre, rotulam ações equivocadas da Polícia como verdades definitivas, equivocadamente, a tomar o TODO pela PARTE.

Parece que não se questiona, com sensatez, o que acontecerá no dia em que as propostas de acabar com a Polícia forem implementadas, a dizer “o que virá depois?”.




[i] A levar em consideração que “verdades definitivas” podem, paradoxalmente, ser efêmeras. Uma versão sobre determinado fato é apenas uma “versão”.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

A preservação que degrada

É preciso repensar as limitações impostas para o uso público dos espaços da cidade. Proibir a livre circulação por margens de rios, por exemplo, pode provocar o efeito indesejável de transformar tais locais em “refúgio” de delinquentes.

O não uso está muito próximo do abandono, espaços urbanos abandonados “atraem” problemas e degradação, lembro a teoria de George Kelling “janelas quebradas”:

“Considere-se um edifício com algumas janelas quebradas. Se as janelas não são reparadas, a tendência é para que vândalos partam mais janelas. Eventualmente, poderão entrar no edifício, e se este estiver desocupado, tornam-se "ocupas" ou incendeiam o edifício.Ou considere-se um passeio. Algum lixo acumula-se. Depois, mais lixo acumula. Eventualmente, as pessoas começam a deixar sacos de lixo.”

O significado de “proibição”, obviamente, somente faz sentido a quem respeita a proibição, aos desordeiros nem sempre. A proibição do uso da cidade, quando mal planejada, acarreta a “destinação” involuntária de espaços urbanos a criminosos. A proibição para uns se traduz, para outros, em liberação.