Duas favelas
cariocas foram “ocupadas” para a instalação de Unidades Pacificadoras de
Polícia, e isto em pouquíssimo tempo (cerca de oitenta minutos), entretanto o
olhar interdisciplinar a buscar os valores subjacentes à mensagem, e a tratar os
termos “pouco tempo” e “muito tempo”, sobretudo sob aporte das indicações do
contexto contemporâneo e explorar o percurso ocupação-desocupação-ocupação.
Ocupadas “estavam”,
fato sabido universalmente, as favelas nomeadas na reportagem. As forças do
Estado (des)ocuparam, por sua presença e ação, o espaço físico sob o mando dos
narco-traficantes, e, com isso, (re)ocuparam os territórios em nome do Estado,
ou seja, o que antes era “terra de bandido” agora (???) está sob a tutela do
Estado, como se não estivesse antes, se estivesse não haveria necessidade de “ocupação”.
Todo o
processo acima foi relatado como de curtíssima duração, aliás, quase todo o
processo acima, pois o estado primitivo de ocupação, por organizações
criminosas, não foi de curtíssima duração, foi um longo processo histórico,
vivenciado por gerações.
Acredito que
a ocupação não se traduz, precisamente, em manter ocupado. Penso que a
manutenção da ocupação é que é o processo chave. Mas se a população não foi
retirada e, de fato, ocupa o espaço físico, não é o caso de dizer que as
favelas sempre estiveram ocupadas? A ocupação por pessoas relegadas a segundo
plano pelo Estado resulta em necessidade de ocupação?
O termo “ocupação”
nos remete a processos militares, ou seja, buscar o inimigo em seu território e
libertar este território da influência inimiga.
Não é o
caso de colocar em julgamento o conceito, em si, das operações e implantações
de UPPs, mas sim de entender o quanto está imiscuído à cultura brasileira as
questões de insegurança pública em relação ao abando no Estado, que para
atender seus cidadãos precisa de um processo de “ocupação”. Talvez sem levar em
consideração o tempo, e os processos sociais, que durou a ocupação dos morros e
favelas pelo crime organizado.
Assim com a península da Crimeia, na Ucrânia, tem a população composta por mais russos que ucranianos, num processo que é histórico, remontando séculos, nossas favelas foram ocupadas num processo muito mais antigo que as UPP, com os decorrentes traços sociais e culturais...
Levará mais que 80 minutos para ocupar de fato as favelas.
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