Dia desses estava eu no metrô paulistano, a
caminho do trabalho, e reparei num enunciado da TV Minuto, a “entreter” e
informar os ocupantes dos vagões.
A chamada tinha como objetivo concitar os
cidadãos da capital bandeirante a pedalarem até um determinado parque urbano,
sendo que minha atenção, de pesquisador da (in)segurança pública, se ateve às
propostas para os ciclistas que, porventura, se animassem a ir ao local em questão.
Duas foram as dicas/sugestões para os
ciclistas, a primeira é que estacionassem suas bicicletas em locais favoráveis
à vigilância constante, a segunda, ainda mais direta, constituiu-se na seguinte
frase: “Use um ‘bom’ cadeado”. Fiquei pensando, por um tempo, o que seria um “bom”
cadeado, acho que seria aquele que fosse capaz de impedir o furto...
As duas condições, para um passeio
tranquilo, sem surpresas desagradáveis, são significativas. Em primeiro lugar
se legitimam a partir do entendimento de que o espaço intra-urbano é inseguro
(ponto). A ideia é a de que o delinquente é uma presença esperada, ou melhor,
inevitável; praticamente como uma parte da “mobília”, se fosse tratar a cidade
como uma casa.
Também há um aspecto de “driblar” a
presença do bandido, com vigilância e, caso a ousadia do gatuno ultrapasse as
raias da “normalidade”, um “bom” cadeado deve bastar, ou seja, se o pilantra
não se intimidar com o olhar patrulheiro do proprietário da bike, ao menos terá
dificuldade em vencer um “bom” cadeado, afinal a ocasião faz o ladrão...
Noto que há uma clara intenção em promover
vitalidade nos ambientes urbanos públicos, apesar da insegurança. Me parece,
portanto, que existe o consenso de que a cidade é do cidadão, e que este deve
desfrutá-la e não fugir dela, para dentro de muros e grades. Entretanto o passeio
em que numa boa parte do tempo se constitui em vigiar seu patrimônio e outra
parte confiando em um “bom” cadeado, não soa como uma situação de encontro com
a natureza, a tranquilidade, a paz e o descanso...
Algo precisa ser feito, pela sociedade num
todo, a fim de atrair todos, inclusive incluindo (a redundância é proposital) candidatos
a delinquentes (crianças e adolescentes), para a co-presença pacífica, o encontro
humano.
A vigilância (a traduzir-se por segregação social) e as grades (segregação espacial) propiciarão, com maior ênfase à
medida que o tempo passa, momentos bucólicos a observar sua linda bike, parada
e presa a um poste, ou árvore, com um “bom” cadeado.
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