sábado, 20 de abril de 2013

Mais uma disciplina para o currículo escolar: cultura de violência (teoria e prática)


Há um sinal de alerta imenso no vídeo de uma briga entre duas alunas dentro da sala de aula, especialmente em relação ao professor em destaque, visto que quando você começa a pensar se vale a pena fazer o que sua consciência diz que é correto e, no fim deste processo mental, decide que o melhor é a autopreservação, ainda que alguém (sob sua proteção) sofra ferimentos graves, significa, pelo que entendo, que a situação está muito pior que o vídeo, por suas fortes imagens de violência, possa nos comunicar.

A recapitular e recompor todo o processo (a partir das cenas e das possibilidades de suposição), há uma discussão entre duas adolescentes – logo no início a moça maior diz algumas coisas à menor -; há uma aproximação física da maior em relação à menor; ocorre a primeira agressão física; ocorrem outras agressões físicas; o professor se aproxima, ainda com o giz em mão; o professor não se permite tocar em nenhuma delas; a agressão continua; o professor se posta como escudo humano em relação à vítima; após a cadeirada, e talvez por exaustão da agressora, a vítima escapa e a briga termina, para o alívio do professor.

Quanto ao professor penso que é nítido que ele entende que deve fazer algo para cessar a agressão, mas ele tem medo de “tocar” as alunas, talvez em vista de que o toque físico pudesse provocar alguma lesão, de sua autoria. Neste caso o vídeo serve muito mais como uma testemunha de defesa ao professor, a enunciar que “ele não machucou nenhuma das duas”.

Imagino o que aconteceria se tal vídeo não existisse e uma das duas alegasse que o professor a empurrou causando ferimentos, o acusado seria o professor, ou seja, na atual prática, é melhor ser OMISSO que AGRESSOR.

O professor, por esta linha argumentativa, agiu racional e sabiamente, decidiu que a melhor atitude era a de autopreservação, parece soar egoísta e fisiológico, mas é coerente à atual política de que as “crianças” não devem ser molestadas ou incomodadas. Há casos, parecidos com este, em que o professor saiu como o vilão da história por se envolver.

A comprovação, na minha ótica, de que o professor foi sábio encontra-se nas mensagens que o ambiente transmite, quais sejam, é notável que o espaço foi aberto (à forma de um ringue) para que houvesse a briga, nenhum dos “coleguinhas” de classe se envolveu, todos participaram das agressões calmamente, ao assistir a luta atentamente. O registro é feito por um dos alunos, bem próximo ao evento e, pelo visto, muito mais preocupado em fazer uma boa “tomada” de vídeo que em socorrer a “amiguinha”.

Outro ponto a destacar é que o professor se sente impotente para resolver a questão, apesar de mais forte fisicamente é nitidamente vazio de autoridade e respeitabilidade. A agressora tem plena ciência da situação dramática do professor, razão pela qual continua a bater na colega de classe ignorando a presença do mestre, o qual adquire a condição de obstáculo físico inanimado, ela desvia do “poste” para poder alcançar, com pontapés, seu alvo.

Tal comportamento é legitimado, pela política da liberdade sem responsabilidade, todas as vezes em que alunos agridem professores, ou mesmo quando simplesmente saem da sala de aula quando têm vontade, a declarar, por suas atitudes, “vou sair e quero ver quem vai me segurar aqui dentro”.

É interessante notar que ela não tenta bater no professor, apenas o ignora, o que indica que há respeito pela força física de um homem adulto, mas o mesmo respeito não ocorre em relação à autoridade do professor. Mais uma vez o direito da força prevalece sobre a força do direito.

Sendo a escola o “templo do saber”, também chamada de estabelecimento de ensino, registro aqui algumas lições e aprendizados que captei:

  •    O professor ensinou a todos nós que a sua situação de trabalhador é caótica;
  •     O professor aprendeu que não é prudente ficar de costas para uma adolescente furiosa com uma cadeira nas mãos;
  •     A agressora ensinou que basta ter força física e fúria para resolver os problemas cotidianos;
  •     A agressora aprendeu que pode fazer o que quiser, sem repressão, sem censura, sem nenhuma imposição de ordem e respeito;
  •    A vítima nos ensina que diante da violência física não existem lugares seguros, nem mesmo uma sala de aula com o professor em classe;
  •    A vítima aprendeu que não é salutar ficar no caminho de pessoas mais fortes fisicamente; esta lição pode ser aplicada também a casos de disparidade econômica, política, etc...
  •    O “cinegrafista amador” ensina que registros em vídeo de agressões devem ter boas tomadas; e
  •    O “cinegrafista amador” e os demais alunos aprenderam que respeito à autoridade de um professor é algo que não existe na escola.

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