Há um sinal de alerta imenso no vídeo de uma briga entre duas alunas dentro da sala de aula, especialmente em relação ao professor em destaque, visto que quando
você começa a pensar se vale a pena fazer o que sua consciência diz que é
correto e, no fim deste processo mental, decide que o melhor é a autopreservação,
ainda que alguém (sob sua proteção) sofra ferimentos graves, significa,
pelo que entendo, que a situação está muito pior que o vídeo, por suas fortes
imagens de violência, possa nos comunicar.
A recapitular e recompor todo o processo (a
partir das cenas e das possibilidades de suposição), há uma discussão entre
duas adolescentes – logo no início a moça maior diz algumas coisas à menor -; há
uma aproximação física da maior em relação à menor; ocorre a primeira agressão
física; ocorrem outras agressões físicas; o professor se aproxima, ainda com o giz em mão; o professor
não se permite tocar em nenhuma delas; a agressão continua; o professor se
posta como escudo humano em relação à vítima; após a cadeirada, e talvez por
exaustão da agressora, a vítima escapa e a briga termina, para o alívio do
professor.
Quanto ao professor penso que é nítido que
ele entende que deve fazer algo para cessar a agressão, mas ele tem medo de “tocar”
as alunas, talvez em vista de que o toque físico pudesse provocar alguma lesão, de sua autoria. Neste caso o vídeo serve muito mais como uma testemunha de
defesa ao professor, a enunciar que “ele não machucou nenhuma das duas”.
Imagino o que aconteceria se tal vídeo não
existisse e uma das duas alegasse que o professor a empurrou causando
ferimentos, o acusado seria o professor, ou seja, na atual prática, é melhor ser OMISSO que
AGRESSOR.
O professor, por esta linha argumentativa,
agiu racional e sabiamente, decidiu que a melhor atitude era a de
autopreservação, parece soar egoísta e fisiológico, mas é coerente à atual
política de que as “crianças” não devem ser molestadas ou incomodadas. Há casos,
parecidos com este, em que o professor saiu como o vilão da história por se
envolver.
A comprovação, na minha ótica, de que o
professor foi sábio encontra-se nas mensagens que o ambiente transmite, quais
sejam, é notável que o espaço foi aberto (à forma de um ringue) para que houvesse a briga,
nenhum dos “coleguinhas” de classe se envolveu, todos participaram das
agressões calmamente, ao assistir a luta atentamente. O registro é feito por um
dos alunos, bem próximo ao evento e, pelo visto, muito mais preocupado em fazer
uma boa “tomada” de vídeo que em socorrer a “amiguinha”.
Outro ponto a destacar é que o professor se
sente impotente para resolver a questão, apesar de mais forte fisicamente é
nitidamente vazio de autoridade e respeitabilidade. A agressora tem plena ciência
da situação dramática do professor, razão pela qual continua a bater na colega
de classe ignorando a presença do mestre, o qual adquire a condição de
obstáculo físico inanimado, ela desvia do “poste” para poder alcançar, com pontapés,
seu alvo.
Tal comportamento é legitimado, pela
política da liberdade sem responsabilidade, todas as vezes em que alunos
agridem professores, ou mesmo quando simplesmente saem da sala de aula quando têm vontade, a declarar, por suas atitudes, “vou sair e quero ver quem vai me segurar aqui dentro”.
É interessante notar que ela não tenta
bater no professor, apenas o ignora, o que indica que há respeito pela força
física de um homem adulto, mas o mesmo respeito não ocorre em relação à
autoridade do professor. Mais uma vez o direito da força prevalece sobre a
força do direito.
Sendo a escola o “templo do saber”, também
chamada de estabelecimento de ensino, registro aqui algumas lições e
aprendizados que captei:
- O professor ensinou a todos nós que a sua situação de trabalhador é caótica;
- O professor aprendeu que não é prudente ficar de costas para uma adolescente furiosa com uma cadeira nas mãos;
- A agressora ensinou que basta ter força física e fúria para resolver os problemas cotidianos;
- A agressora aprendeu que pode fazer o que quiser, sem repressão, sem censura, sem nenhuma imposição de ordem e respeito;
- A vítima nos ensina que diante da violência física não existem lugares seguros, nem mesmo uma sala de aula com o professor em classe;
- A vítima aprendeu que não é salutar ficar no caminho de pessoas mais fortes fisicamente; esta lição pode ser aplicada também a casos de disparidade econômica, política, etc...
- O “cinegrafista amador” ensina que registros em vídeo de agressões devem ter boas tomadas; e
- O “cinegrafista amador” e os demais alunos aprenderam que respeito à autoridade de um professor é algo que não existe na escola.
Nenhum comentário:
Postar um comentário