segunda-feira, 4 de março de 2013

Viver na cidade e viver “a” cidade


Há muito tempo que me preocupo, na condição de policial militar e pesquisador de segurança pública, com a transformação de conjuntos habitacionais em problemas policiais.

Conjuntos habitacionais, normalmente, se prestam prover lugar – concentrando – a pessoas sem habitação adequada ou ainda remanejar moradores de assentamentos precários – favelas, acampamentos.

Com o tempo estes conjuntos adquirem características contrárias ao desenvolvimento urbano saudável, ou seja, não é perceptível um planejamento adequado. Parece que há uma concepção geral de que basta que se construam apartamentos/casas maximizando a utilização do espaço, para que um número maior de residências seja disponibilizado. O resultado é que uma boa parte, ao menos dentre os que conheço, em várias cidades, acaba se transformando em guetos fechados sob o controle dos mais fortes, locais desertos à noite, com perturbação do sossego e sem a presença do Estado.

Imagino que os planejadores esquecem que estão a dilatar a cidade fisicamente, mas não “vivencialmente”. Não se trata apenas de alocar pessoas, se trata de desenvolver urbanisticamente a vida destas pessoas, questões básicas precisam de respostas – onde comprar o pão e leite?; onde está a escola de ensino fundamental?; onde está o lazer?; como estão integradas os logradouros, a evitar becos sem saída ?; qual a oferta de trabalho aos novos moradores?; etc...

Neste blog temos discutido o resultado “(in)segurança pública” para um contexto estabelecido. Um ponto importantíssimo na composição do contexto urbano é saber se o cidadão vive na cidade ou se vive a cidade, por isso entendo a questão posta por Raquel Rolnik: “Nosso déficit não é de casas é de cidade”.

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