terça-feira, 12 de março de 2013

Quando a cidade encontra a não-cidade


Uma sequência terrível, composta por um atropelamento, com decepação de um braço, seguida de fuga e o "descarte" do membro num córrego, inspirou algumas considerações do blogger Leonardo Sakamoto, neste texto encontrei o termo não-cidade.

Penso que o Sakamoto usou o termo para falar sobre a impossibilidade de viver bem em São Paulo, ou ainda, pela falência do modelo de cidade que São Paulo representa. E este entendimento me levou ao não-lugar.

O não-lugar, pode ser definido, às expensas da internet, da seguinte forma:
O não-lugar é diametralmente oposto ao lar, à residência, ao espaço personalizado. É representado pelos espaços públicos de rápida circulação, como aeroportos, rodoviárias, estações de metro, pelos meios de transporte, pelas grandes cadeias de hotéis e supermercados.
Alio ao conceito a ideia de que o espaço físico objeto de afeto passa a ser um lugar. O afeto não tem origem no espaço físico, por óbvio, portanto é o indivíduo que transforma espaço físico em lugar.

Se o afeto/atenção pode transformar um espaço físico em lugar, também há a possibilidade de que a lógica do consumo, aos sabores das diretrizes do mercado imobiliário, transforme um lugar em um espaço físico, ou ainda, num não-lugar.

Quando determinadas porções da cidade, sobretudo as periferias – alijadas da presença do Estado -, adquirem a característica de depósito de pessoas (cujo exemplo acabado é o conjunto habitacional imenso e sem vitalidade), pode ser dito que tais indivíduos estão num espaço físico e daí decorre que a realização pessoal se constitui em sair dali, em outras palavras, é a “não-cidade”.

A contraposição da não-cidade é a cidade, onde o Estado está mais visível e atuante, onde há o espetáculo, o prazer, as vitrines e, especialmente, a prosperidade, cujo exemplo acabado é o condomínio de luxo “gueto”, totalmente isolado dos demais, com vida independente.

Entretanto a prosperidade da cidade é mantida pelo trabalho dos ocupantes da não-cidade, e a situação de desprovimento da não-cidade é mantida pela necessidade de prosperidade da cidade, e, por estarem fisicamente próximas, há encontros entre os dois mundos, e, em alguns desses esbarrões, ocorrem delitos, crimes e violência.

De um lado alguns dos ocupantes tentam obter um pouco de prosperidade à força e pelo outro lado há a manutenção da prosperidade, também, à força; uns usam da força física, por vezes com armas, e outros apelam à força do capital, por vezes à força do Estado.

Entendo que a existência de cidade e da não-cidade é uma das grandes causas, se não for a maior, da insegurança pública vivenciada cotidianamente  por ambas.

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