sábado, 27 de abril de 2013

A performance policial-militar entre dois eixos direcionadores, cultura institucional e condições pessoais dos policiais

Num bate-papo com amigos surgiu o assunto dos constantes, e sistemáticos, comentários de que o trabalho policial-militar é discriminatório e preconceituoso (contra determinadas etnias e contra pessoas classificadas como de baixa classe socioeconômica).

Um dos interlocutores revelou sua posição de que a Polícia Militar não pode ser acusada, por via de sua atuação junto à sociedade, de “racista[i]” visto que em suas fileiras há muitos, uma parte significativa, negros, mulatos, morenos, etc, (abrangente aos dois gêneros) e muitos que não são integrantes das classes econômicas “A” e “B”, a enunciar: É razoável supor que um negro manifeste, no exercício profissional, preconceito e discriminação em relação a outros negros?

A partir deste posicionamento fiquei pensando no que determina a performance policial (a evoluir na argumentação de um artigo já publicado neste blog: Performance policial contemporânea).

Entendo que o que direciona a ação de um policial militar não são, em primeiro plano, suas condições pessoais (cor da pele, classe socioeconômica, educação formal, etc), mas, sobretudo, sua condição de policial militar.

A condição de policial militar merece um estudo profundo interdisciplinar, especialmente em vista de que esta emerge de um conjunto de fatores (o que foi aprendido nas escolas de formação, possibilidades de execução profissional[ii], o exemplo de policiais militares mais antigos, etc), ao que poder-se-ia denominar de cultura policial-militar.

O resultado “trabalho policial-militar” portanto, não pode ser apreendido unicamente a partir de premissas reducionistas, cartesianas, visto que não há como isolar determinada condicionante (cor da pele, por exemplo) de outros aspectos relevantes ao que será produzido na lide profissional policial-militar.

O trabalho policial-militar é complexo, não como sinônimo de difícil ou de complicado, mas por ser composto por fatores múltiplos e indissociáveis, a seguir o enunciado por Edgar Morin:
Complexus significa o que foi tecido junto; de fato, há complexidade quando elementos diferentes são inseparáveis constitutivos do todo (como o econômico, o político, o sociológico, o psicológico, o afetivo, o mitológico), e há um tecido interdependente, interativo e inter-retroativo entre o objeto de conhecimento e seu contexto, as partes e o todo, o todo e as partes, as partes entre si.


Por isso, a complexidade é a união entre a unidade e a multiplicidade. Os desenvolvimentos próprios a nossa era planetária nos confrontam cada vez mais e de maneira cada vez mais inelutável com os desafios da complexidade[iii].

Com o suporte do corolário da complexidade e das minhas inquietações pessoais/profissionais me sinto compelido a dizer que não é possível estudar (observar, descrever e analisar) com propriedade o trabalho policial-militar de forma cartesiana, no sentido de que não há um fator a ser separado do contexto, isto é, o contexto é o objeto de estudo, com todas as suas intercorrências, a exigir do pesquisador/comentarista um olhar sistêmico.

A validação, a priori, de que o contexto é determinante está em que o policiamento ostensivo numa cidade interiorana, com menos de 10.000 habitantes, é diferente do que é praticado em uma megalópole e, ainda mais específico e instigante, o policiamento ostensivo numa zona da cidade com alta incidência de uso de entorpecentes se mostra distinto daquele executado em bairros residenciais destinados às classes socioeconômicas mais abastadas financeiramente (argumento aplicável aos dois assentamentos humanos citados – o povoado e a metrópole).

Voltando à questão do policial militar negro e pobre que é acusado de ser preconceituoso e truculento contra seus semelhantes (negros e pobres), infiro, novamente, que há falta de investigação científica interdisciplinar sobre o assunto e a mesma necessidade se aplica a outro tema, qual seja, sobre como a cultura policial-militar influencia neste processo.

A questionar: é possível que a condição de policial militar prevaleça sobre a condição pessoal do indivíduo, de tal forma que a suplante. Neste sentido é possível, ainda no campo das suposições, imaginar que não exista, nas fileiras da Polícia Militar, nenhuma condição pessoal a não ser a profissional, isto é, todos têm, como condição direcionadora de suas atuações, o fato de serem policiais militares?

As respostas a estas duas indagações conduzirão, penso eu, ao conhecimento mais profundo e revelador sobre o peso da cultura policial-militar, como integrante do contexto laboral, na performance diária verificada no policiamento ostensivo preventivo.



[i] Termo usado por ser o mais corrente e, portanto, o mais acessível a todos.
[ii] Morfologia do ambiente construído, encontrada nos espaços urbanos públicos (obstáculos à visualização ampla, becos sem saída, e outros), hostilidades à presença policial – simbólicas, físicas, psicológicas... -, etc.
[iii] MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya ; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. – 2. ed. – São Paulo : Cortez ; Brasília, DF : UNESCO, 2000. Trecho citado: página 38.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

De dentro para fora


As percepções que se tem do espaço intra-urbano, das pessoas e das coisas está cada vez mais destacada, no sentido de apartada da realidade. A visão sistêmica do ambiente, sobretudo da cidade, tende à inexistência. Por isso as opiniões sobre as cidades serem tão díspares, talvez em razão de que os comentários se componham pelo olhar particular de quem fala sobre “sua” cidade.

O termo “sua cidade”, há tempos, traduzia-se em razão de uma questão geográfica, isto é, onde determinada pessoa nascera ou vivia. O onde abarcava o todo da localidade, a cidade toda, sem dúvida com as peculiaridades e significações sociais, culturais e políticas de cada “pedaço” da cidade mas, ainda assim, exprimia a ideia do todo.

A globalização e a tecnologia comunicam a ideia de amplidão, de que tudo está ao alcance das mãos, mais especificamente, da palma da mão, por via de um aparelho eletrônico.

Ocorre que, por absoluta impossibilidade de realização física, o espaço cibernético global, não está muito além da palma da mão, que o digam os milhares de internautas que twitan, facebucam, googulham o dia todo, freneticamente em seus dedos e olhos, mas parados; a rir, viajar, conversar, etc..., todavia no seu metro quadrado, destacados da multidão, conectados digitalmente (mentalmente, talvez), porém isolados fisicamente. Mesmo que os internautas estejam prensados no transporte urbano seus olhos passam pela janela da tela para o mundo, e, da janela, vivenciam tudo, observando sem odor, sem calor do sol, sem gosto...

A questão que toca mais de perto a (in)segurança pública é que este vivenciar destacado é mais que tecnológico, é cultural, ou seja, o comportamento e as significações também são destacados. Percebe-se o mundo pela janela do carro, com direito a uma cobertura a torná-la menos transparente, ou melhor, menos “conectada” com o ambiente exterior.

A percepção do outro se dá por uma janela também (televisão, computador, etc). O que ocorre com o outro se dá do lado de fora da janela, não há gosto, não há cheiro, não há tangibilidade para o que está a ocorrer com o outro, passa-se a um ponto em que o outro não importa, não existe... E essa é a grande violência, talvez a maior no mundo contemporâneo, morrem milhares e milhares de pessoas todos os dias, condenadas a inexistir por não passarem pelas janelas, sendo assim, o contingente de invisíveis está a crescer.

A violência que se segue é a expectante, visto que ainda que pessoas passem pelas janelas, tal condição continua a impedir a “existência física” (continua do outro lado da janela), destarte é possível acompanhar um tiroteio sem risco de balas perdidas, ou ainda roubos com violência pelo sistema de videomonitorização. Possibilitado está acompanhar qualquer tipo de tragédia sem sair de casa.

A contemporaneidade trouxe um novo tipo de voyeur, o observador da violência, a observar tudo do lado de dentro, sob a percepção de proteção, praticamente destacado do mundo real, visto que o mundo real está lá fora e o observador aqui dentro, pretensamente o “aqui” é longe do “lá fora”, entretanto a realidade diz que este “aqui” é imaginário e o “lá fora”, além de mais próximo do que se imagina, é hostil e inseguro.

A tradução mais fria da diferença entre o “aqui” e o “lá fora” são as estatísticas criminais, visto que o números são representantes de quem está “lá fora”, pessoas que são vistas de dentro do “aqui”...

domingo, 21 de abril de 2013

Quatro desonras contemporâneas ao Tenente Joaquim José da Silva Xavier


Neste dia 21 de abril, ao ouvir o comentarista esportivo Flávio Prado, na rádio Jovem Pan, ouvi que o nosso Tiradentes teve uma morte terrível, em vão...

A seguir os comentários, o jornalista lembrou que a principal causa motivadora da Inconfidência Mineira era a derrama, imposto cobrado, naquela época, pelo Rei de Portugal, vinte por cento de tudo que era ganho, a atual "derrama" é muito maior...



Outro ponto destacado, como fomentador da insurreição, foi a corrupção... não há necessidade de comentários sobre o presente estado de coisas.

A história registra que dentre todos os presos somente o Tiradentes foi castigado com enforcamento e esquartejamento, os demais se safaram; uns foram deportados, outros foram perdoados e ainda outros voltaram aos seus cargos, a lembrar, pela similaridade, o sentimento de impunidade vivenciado por quem comete delitos e por suas vítimas.

A quarta desonra refere-se ao atual quadro de crime e violência no Brasil, visto que o Tenente "Tiradentes", no exercício de sua profissão, certamente dedicou muitas horas de trabalho em prol de melhores condições de segurança pública aos brasileiros.

sábado, 20 de abril de 2013

O Brasil de 2013 é a Chicago dos anos 1920...

A notícia das ações de criminosos na cidade baiana de Jaguaquara traz à lembrança fatos similares ocorridos nos Estados Unidos, em fins do século XIX e início do século XX.

Naquela época os bancos do interior daquele país, e em grandes cidades também, sofriam ataques ousados e explosões, em cenas dignas de filmes.

Ao que tudo indica as organizações criminosas brasileiras estão a assistir filmes sobre os grandes roubos a bancos e, sobretudo, a estudar a história do crime, seja nos EUA, seja nos tempos em que a guerrilha brasileira usava deste expediente (roubo a bancos) para obter dinheiro para a “causa”.

É bem provável que os trabalhos realizados por pessoas como John Dillinger, Jesse James, Butch Cassidy, Ma Baker, Bonnie e Clyde, Irmãos Sass, Pretty Boy Floyd, Lamarca, companheira Estella, dentre outros, estejam a inspirar as estratégias, táticas e técnicas dos atuais ladrões de banco.



Quando a situação ficou fora de controle e insuportável, lá nos Estados Unidos daquela época, o Estado teve que agir, se viu obrigado a azeitar a máquina de investigar, caçar, e, finalmente, eliminar os famosos gangsters, por via da prisão ou pelo enfrentamento bélico.

Creio que a primeira fase, do “fora de controle”, já é fava contada, que o digam nossos colegas baianos, mas quando, em terras tupiniquins nos dias atuais, a coisa ficar mesmo insuportável algo vai acontecer. Pelo visto ainda não chegamos neste ponto...

Mais uma disciplina para o currículo escolar: cultura de violência (teoria e prática)


Há um sinal de alerta imenso no vídeo de uma briga entre duas alunas dentro da sala de aula, especialmente em relação ao professor em destaque, visto que quando você começa a pensar se vale a pena fazer o que sua consciência diz que é correto e, no fim deste processo mental, decide que o melhor é a autopreservação, ainda que alguém (sob sua proteção) sofra ferimentos graves, significa, pelo que entendo, que a situação está muito pior que o vídeo, por suas fortes imagens de violência, possa nos comunicar.

A recapitular e recompor todo o processo (a partir das cenas e das possibilidades de suposição), há uma discussão entre duas adolescentes – logo no início a moça maior diz algumas coisas à menor -; há uma aproximação física da maior em relação à menor; ocorre a primeira agressão física; ocorrem outras agressões físicas; o professor se aproxima, ainda com o giz em mão; o professor não se permite tocar em nenhuma delas; a agressão continua; o professor se posta como escudo humano em relação à vítima; após a cadeirada, e talvez por exaustão da agressora, a vítima escapa e a briga termina, para o alívio do professor.

Quanto ao professor penso que é nítido que ele entende que deve fazer algo para cessar a agressão, mas ele tem medo de “tocar” as alunas, talvez em vista de que o toque físico pudesse provocar alguma lesão, de sua autoria. Neste caso o vídeo serve muito mais como uma testemunha de defesa ao professor, a enunciar que “ele não machucou nenhuma das duas”.

Imagino o que aconteceria se tal vídeo não existisse e uma das duas alegasse que o professor a empurrou causando ferimentos, o acusado seria o professor, ou seja, na atual prática, é melhor ser OMISSO que AGRESSOR.

O professor, por esta linha argumentativa, agiu racional e sabiamente, decidiu que a melhor atitude era a de autopreservação, parece soar egoísta e fisiológico, mas é coerente à atual política de que as “crianças” não devem ser molestadas ou incomodadas. Há casos, parecidos com este, em que o professor saiu como o vilão da história por se envolver.

A comprovação, na minha ótica, de que o professor foi sábio encontra-se nas mensagens que o ambiente transmite, quais sejam, é notável que o espaço foi aberto (à forma de um ringue) para que houvesse a briga, nenhum dos “coleguinhas” de classe se envolveu, todos participaram das agressões calmamente, ao assistir a luta atentamente. O registro é feito por um dos alunos, bem próximo ao evento e, pelo visto, muito mais preocupado em fazer uma boa “tomada” de vídeo que em socorrer a “amiguinha”.

Outro ponto a destacar é que o professor se sente impotente para resolver a questão, apesar de mais forte fisicamente é nitidamente vazio de autoridade e respeitabilidade. A agressora tem plena ciência da situação dramática do professor, razão pela qual continua a bater na colega de classe ignorando a presença do mestre, o qual adquire a condição de obstáculo físico inanimado, ela desvia do “poste” para poder alcançar, com pontapés, seu alvo.

Tal comportamento é legitimado, pela política da liberdade sem responsabilidade, todas as vezes em que alunos agridem professores, ou mesmo quando simplesmente saem da sala de aula quando têm vontade, a declarar, por suas atitudes, “vou sair e quero ver quem vai me segurar aqui dentro”.

É interessante notar que ela não tenta bater no professor, apenas o ignora, o que indica que há respeito pela força física de um homem adulto, mas o mesmo respeito não ocorre em relação à autoridade do professor. Mais uma vez o direito da força prevalece sobre a força do direito.

Sendo a escola o “templo do saber”, também chamada de estabelecimento de ensino, registro aqui algumas lições e aprendizados que captei:

  •    O professor ensinou a todos nós que a sua situação de trabalhador é caótica;
  •     O professor aprendeu que não é prudente ficar de costas para uma adolescente furiosa com uma cadeira nas mãos;
  •     A agressora ensinou que basta ter força física e fúria para resolver os problemas cotidianos;
  •     A agressora aprendeu que pode fazer o que quiser, sem repressão, sem censura, sem nenhuma imposição de ordem e respeito;
  •    A vítima nos ensina que diante da violência física não existem lugares seguros, nem mesmo uma sala de aula com o professor em classe;
  •    A vítima aprendeu que não é salutar ficar no caminho de pessoas mais fortes fisicamente; esta lição pode ser aplicada também a casos de disparidade econômica, política, etc...
  •    O “cinegrafista amador” ensina que registros em vídeo de agressões devem ter boas tomadas; e
  •    O “cinegrafista amador” e os demais alunos aprenderam que respeito à autoridade de um professor é algo que não existe na escola.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

O que é Mobilização Social?


Nesta semana encontrei o amigo Heitor, que me falou sobre seu trabalho em São Caetano do Sul e a indicação a integrantes do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg), dos textos deste blog para leitura. O que me fez lembrar que um Conseg é, fundamentalmente, uma busca por MOBILIZAÇÃO COMUNITÁRIA em prol da segurança de todos, eis aí, Heitor e amigos, algumas considerações que uso durante as aulas sobre o tema:

Mobilizar é convocar vontades para atuar na busca de um propósito comum, sob uma interpretação e um sentido também compartilhados.

Participar ou não de um processo de mobilização comunitária é um ato de escolha. Por isso se diz convocar, porque a participação é um ato de liberdade. As pessoas são chamadas, mas participar ou não é uma decisão de cada um.

Essa decisão, de participar de algo em prol da comunidade, depende essencialmente da percepção, pelos indivíduos de uma comunidade, da responsabilidade e capacidade de provocar e construir mudanças.

A mobilização social é muitas vezes confundida com manifestações públicas, com a presença das pessoas em uma praça, passeata, concentração. Mas isso não caracteriza uma mobilização.

A mobilização ocorre quando um grupo de pessoas, uma comunidade ou uma sociedade decide e age com um objetivo comum, buscando, quotidianamente, resultado decidido e desejado por todos.

Toda mobilização se dá por algum motivo, para alcançar um objetivo pré-definido, um propósito comum, por isso é um ato de razão. Pressupõe uma convicção coletiva da relevância daquilo que convém a todos.

Para que ela seja útil tem que estar orientada para a construção de um projeto de futuro. Se o seu propósito é passageiro, converte-se em um evento, uma campanha e não em um processo de mobilização. A mobilização requer uma dedicação contínua e produz resultados continuamente.

Como falamos de interpretações e sentidos também compartilhados reconhecemos a mobilização social como um ato de comunicação. A mobilização não se confunde com propaganda ou divulgação, mas exige ações de comunicação no seu sentido amplo, enquanto processo de compartilhamento de discurso, visões e informações.

O que dá estabilidade a um processo de mobilização social é saber que o que eu faço e decido, em meu campo de atuação, bem como, está sendo feito e decidido por outros, em seus próprios campos de atuação, com os mesmos propósitos e sentidos.


[1] Extraído de “MOBILIZAÇÃO SOCIAL UM MODO DE CONSTRUIR A DEMOCRACIA E A PARTICIPAÇÃO”, de José Bernardo Toro A. e Nisia Maria Duarte Werneck, disponível em << http://www.aracati.org.br/portal/pdfs/13_Biblioteca/Publica%E7%F5es/mobilizacao_social.pdf>>, acesso em 24/08/2008 às 17h30.

Balada de ladrão


Houve um tempo em que era vergonhoso, reprovável socialmente, ser chamado de ladrão, de traficante, de maconheiro, etc, contudo se vai ao longe essa época, hoje há a possibilidade de que estes adjetivos adquiram tons elogiosos, reconhecimento de que fulano é valente, é macho, “se garante”.

Esse assunto já apareceu neste blog duas vezes (É bonito ser feio? e É bonito ser feio? parte 2). Mas fiquei sabendo de uma situação afim ao tema e ainda mais instigante.

Em algumas baladas, as “baladas de ladrão”, um delinquente de sucesso, em seu ramo de atividades, parece ser “um bom partido”, alvo de atenção e disputa pelas moças, que exibem seus dotes físicos fartamente, na clara intenção de atrair um malandro, para ser-lhe mulher, para que ele a proteja, garanta uma vida financeira tranquila e a presenteie fartamente.

Estranho, não é? Talvez não... talvez não seja estranho, visto que há uma lógica, um sentido por trás de tal escolha. 

Como dito anteriormente, em relação à proteção, lembro que na contemporaneidade todos carecem de proteção, sobretudo contra o crime e a violência. Todos buscamos um “lugar ao sol”. E, afinal, quem não gosta de paparicos?

É claro, como a experiência demonstra, que com o tempo a mulher do malandro vai aprender/vivenciar o que significa  a expressão "mulher de malandro", mas aí já é tarde para mudar de vida e continuar viva.

Pode ser uma atitude de difícil aceitação, mas me parece bem compreensível...

Destaco que a intenção neste texto não é oferecer julgamentos ético-morais ao leitor, trata-se de uma linha de argumentação que busca observar, descrever (ainda que à grosso modo) e analisar, com ligeireza, o fenômeno "Balada de ladrão".