Conta
Homero, no livro “Odisséia”, que Ulisses (Odisseu), em um dos episódios de sua
volta ao lar, aporta em uma ilha, no norte da África.
Na ilha há uma tribo que
se alimenta de lótus, uma flor branca com um poder mágico, qual seja, o de
causar amnésia. As pessoas, ao comerem a flor, esquecem seu passado, vivem
entorpecidos com o “hoje”.
Os
tripulantes da nau de Ulisses passam dias e dias com os nativos e não lembram
os motivos que os levaram a reconhecer a ilha, e não voltaram ao barco, até o
momento em que o rei de Ítaca os resgata, amarrando-os em seus assentos e parte
dali.
A figura
dos lotófagos me ocorreu quando ouvi, de um amigo, sobre a entrevista, pelos
idos de 1969, que o ilustre jurista Hely Lopes Meirelles concedeu, no exercício
do cargo de Secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo.
Nesta
entrevista, há mais de 40 anos, o Sr Hely afirma que a Polícia Militar precisa
de mais efetivo e viaturas e que a Polícia Civil precisa de mais condições para
investigar, com eficiência, os crimes.
O discurso
é bem atual, aliás muito parecido com o que ouvimos de todos os secretários da pasta da
segurança pública.
Ou
melhor, o discurso não é atual, mas sim repetido e esgotado, a apresentar a
visão “lotófaga” de quem não consegue lembrar as lições do passado, isto é, estão,
as autoridades, a repetir a velha cantilena de que mais efetivo e viaturas é sinônimo
de mais segurança, quando, na verdade, tal prática não conduz aos resultados
desejados, visto que mais policiais patrulhando no mesmo contexto alteram muito
pouco a sensação de segurança das pessoas nos espaços urbanos públicos...
Sem mudança,
contextual, nas condições de ética, saúde, educação, habitação, ofertas de
emprego, lazer, garantia de dignidade para as pessoas, etc, não ocorrerão os
resultados esperados, ou seja, ficaremos a repetir as mesmas práticas esperando
resultados diferentes...
Prezado Padulla, aqui vai a entrevista. Considere que as sugestões foram, senão totalmente, ao menos parcialmente adotadas - e várias vezes, sempre por motivos políticos. Nos últimos tempos, as centenas de opalas do Quércia, a montanha de equipamentos de rádio trunking, caminhões de bombeiros etc, do Fleury, os kits de identificação e armas da Polícia Técnica do Alkmin, os microônibus do programa Crack do governo federal empurrados para a PM de SP. Será que a solução não está em longas penas cumpridas e temor ao rigor da lei? Será que isto tudo não é apenas culpa do sentimento da impunidade de que sentem os marginais?
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=uXfzQQqimNg
A entrevista é bem atual, não fossem as características técnicas (tomadas de plano, microfones, ambiente) diríamos que o Secretário da Segurança Pública falou ontem, a não ser por um detalhe interessante, o Sr Hely Lopes Meirelles "inovou" ao convidar todos os comandantes de todas as polícias para discutir o assunto, não foi simplesmente um colegiado de notáveis (por vezes de um só indivíduo) que decidiu o que fazer... Fica aí a lição.
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