sábado, 5 de abril de 2014

Tempos de edição de textos/imagens

Imediatismo e urgência marcam, profundamente, a hipermodernidade (o que é atual agora será obsoleto em breve). Questões cotidianas são afetadas pelo conceito de que as práticas devem ser resolvidas “ontém”. Não se leva em consideração o “depois”.

No mundo natural, palpável, tudo obedece, rigorosamente, a lei causa-efeito, tudo que conhecemos teve uma causa e todas as causas produzem, inexoravelmente, efeitos. Um exemplo bem conhecido, e aplicável a esta argumentação, é o conceito fast-food de alimentação, que produz efeitos na saúde.

Outro aspecto, muito comum, é o imediatismo das informações. Normalmente não há tempo para esclarecimentos, exposições de relações causa-efeito. As imagens impactantes resumem-se a segundos televisivos. Declarações, a estabelecer “verdades definitivas[i]”, são obtidas a partir de edições do que foi gravado há poucos instantes e “tem” que ir ao ar imediatamente.

Ao que tudo indica, o imediatismo nas informações impõe um padrão cultural. O padrão de observar, descrever e analisar rapidamente.

Ocorre que observar, descrever e analisar a partir de “edições”, além de não refletir com honestidade a realidade, implica em destacar as opiniões do compromisso causa-efeito.

Ao abordar determinado assunto de forma imediata há o descaso com as decorrências, ou seja, quais as implicações do que está sendo dito/afirmado? Chega-se às raias da irresponsabilidade, a tratar temas de relevância social como assuntos de menor importância. O que é perceptível, terrivelmente, nos comentários e afirmações afins à Segurança Pública.

Quando se observa a “edição” de presos em espaços superlotados não há como negar as condições degradantes e desumanas que o Estado impõe aos detentos, mas a conversa não pode terminar neste ponto, faz-se necessário que o assunto seja tratado com responsabilidade e, neste diapasão, prosseguir na argumentação com a exposição de propostas e, sobretudo, quais os desdobramentos de tais propostas.

A continuar a linha do raciocínio, a soltura imediata de todos os injustiçados pelo Sistema Carcerário pode provocar graves consequências à população, em geral, que ficará exposta à ação dos criminosos soltos, que juntar-se-ão àqueles que ainda não foram presos, ou seja, quem assume os riscos disso?

Não é razoável resolver questões complexas sem antes prever as consequências das soluções propostas, de forma sistêmica, ou seja, entender as interligações e as decorrências.

O combate ao crime tem sido comentado, e proposto, com base em edições e sugestões rápidas. As imagens produzidas pela edição de partes do que ocorre, rotulam ações equivocadas da Polícia como verdades definitivas, equivocadamente, a tomar o TODO pela PARTE.

Parece que não se questiona, com sensatez, o que acontecerá no dia em que as propostas de acabar com a Polícia forem implementadas, a dizer “o que virá depois?”.




[i] A levar em consideração que “verdades definitivas” podem, paradoxalmente, ser efêmeras. Uma versão sobre determinado fato é apenas uma “versão”.

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