quinta-feira, 30 de maio de 2013

Carga de imagens visuais eróticas/pornográficas nos espaços urbanos públicos e a violência

Ao sair da padaria (neste feriado de Corpus Christi às 09:00 horas da manhã), no Tatuapé, me deparei com um cartaz de anúncio, de banca de jornal, de uma revista masculina (com os dizeres: Uma ex-BBB para você BABABAR!!!).
A fotografia é apresentada em dimensões pouco menores que o “tamanho natural”, ou seja, estava lá na rua uma mulher nua, a saltar da parede da banca de jornais para o olhar de todos, de forma ampla, geral e irrestrita.
A propósito deste tema eu acho interessante destacar a nomenclatura “Revista Masculina” como o lugar destinado à exposição de mulheres nuas para o público “masculino” observar, descrever e analisar, em outras palavras, tratar como um OBJETO.
A imagem chamou minha atenção, para além da foto, para questões de segurança pública. Acredito que o sistema de valores disseminados entre as pessoas de uma determinada sociedade, são fundamentais para a compreensão do que é violência e, sobretudo, para estabelecer o percurso gerativo de sentido do que pensamos e, consequentemente, de como agimos em relação a como tratamos o “outro”.
No contexto do séc. XIX, no Brasil, as mulheres e os negros não eram considerados pessoas, na plenitude do termo, havia uma tese de que este “tipo de gente” não possuía “alma”, logo, estavam num nível inferior em relação aos homens brancos, especialmente os homens de “bens”.
Sob esta luz não poderia ser considerado um ato desumano um negro ser espancado em praça pública, visto que se tratava de alguém que era menos que humano, uma condição muito próxima de um OBJETO (com valor comercial, inclusive).
Semelhantemente não era considerado como “castração intelectual” o costume de impedir o ensino formal à mulher, visto que a falta de uma “alma” a impediria de entender assuntos importantes e complexos na mesma medida que os homens de “bens”.
Voltando à minha percepção do cartaz, fiquei pensando em como as pessoas (nas várias faixas etárias e sociais) poderiam entender a imagem da moça nua na avenida... Quais as mensagens que o texto visual comunica a cada indivíduo?
É preocupante pensar nas possibilidades de leitura do cartaz da revista, no sentido de que uma mulher nua possa se transformar num objeto para o consumo.
Agredir um objeto não é crime, a seguir a lógica do séc. XIX quando agredir um escravo não era um ato socialmente reprovável.
O consumo comercial da imagem humana, por via de textos visuais eróticos/pornográficos pode ser, em diferentes graus de impacto, um veículo para a coisificação das pessoas humanas, entendo que tal situação é um fator de contribuição, guardadas as devidas proporções, para a produção de contextos de violência sexual, violência de gênero, homofobia, etc.

3 comentários:

  1. É a mais pura verdade! Gostei muito desta sua publicação...continue fazendo este trabalho maravilhoso. Abraço do seu sobrinho, Igor Rios

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  2. Olá Igor, que bom que gostou do texto. Algo está muito errado em relação à visão valorativa em relação a alguns "estereótipos", um deles é o da mulher-objeto.
    Grato por suas palavras de incentivo.

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  3. Caro Padula,

    Parabéns pela iniciativa de levantar este importante tema.
    Nossas crianças e adolescentes estão sendo vítimas dessa gananciosa indústria do sexo, que sutilmente vai mudando comportamentos e destruindo vidas e famílias.
    Precisamos sair da passividade e nos posicionarmos......
    Parabéns amigo. Que Deus continue usando sua vida.
    Abç

    Cel Terra

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