Ontém foi o último dia do evento retratado na imagem acima. Uma das exposições foi sobre uma pesquisa
acadêmica, em transcurso, abordando os Boletins de Ocorrência. Mais especificamente
o estudo tem como objetivo analisar o discurso dos registros feitos na
Delegacia da Mulher, sobre situações em que mulheres são vítimas de agressão,
ou seja, quais os valores encontrados na forma estética e descritiva do boletim
de ocorrência, o que este documento busca registrar, qual o tipo de texto
encontrado nos históricos, etc.
Procurei o palestrante para me apresentar e
comunicar que achei o tema muito interessante, me coloquei à disposição caso pudesse contribuir com informações sobre a cultura policial e as características do serviço
policial, que transparecem, por vezes veladamente, num registro de ocorrência. Me
senti motivado a tomar esta atitude porque, durante a exposição, o palestrante
estranhou o tamanho diminuto do histórico, a sua expectativa de pesquisador era
que o texto fosse detalhado e longo, narrando minuciosamente todas as ações e
decorrências de um crime contra a mulher.
Penso que é uma tarefa instigante buscar entender e,
sobretudo, desmistificar alguns equívocos quanto ao modo policial de agir (inclusive
em registros escritos). Há muitas coisas que a Polícia faz, em termos de
procedimentos e mesmo atitudes, que não fazem sentido para o cidadão comum e
daí decorrem, a meu ver, muitos juízos contrários ao trabalho policial. Um
exemplo é a manchete dando nota de que a Polícia Militar mata mais que a
Polícia Civil (http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/06/120601_direitos_humanos_policias_onu_lk.shtml),
na verdade, como sabemos, policiais não matam e sim são confrontados por
pessoas armadas, mas é esta a mensagem que se passa à população? A questão, nesta situação específica e segundo entendo, é que desvios
são entendidos como regra e aí uma ação isolada de um policial é entendida, e transmitida à comunidade, como
prática corriqueira de todos os policiais. Talvez as mensagens (verbais e
não-verbais) transmitidas ao público sejam mal compreendidas, talvez isto se
deva à má compreensão que os policiais tenham em relação à sua função na
sociedade...
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