sábado, 15 de setembro de 2012

A máquina de fabricar doentes.


Clotilde Tavares 
Presidente do Rotary Clube Natal
Atua, profissionalmente, com comunicação e arte.

Os serviços de atenção à saúde, tanto públicos como privados, também se organizam de acordo com a concepção mecanicista do organismo. Assim é que existe a organização hierarquizada dos serviços de saúde pública, com graus crescentes de especialização, onde o doente penetra no sistema e vai caminhando ao longo dele como numa imensa linha de montagem até chegar aos grandes centros de tecnologia médica cujo apanágio é o Instituto do Coração de São Paulo.


Concebido como uma máquina, o sistema deve ter a capacidade de absorver a maior quantidade possível de indivíduos doentes e devolvê-los como saudáveis. Para isso, grandes quantias são gastas no aperfeiçoamento da máquina, para que ela tenha condições de processar uma quantidade cada vez maior de doentes. Essas quantias são desviadas da medicina preventiva e de outros programas que impediriam ou diminuiriam a ocorrência de doenças. E esse é um problema difícil de sanar pois, como já se investiu bastante na máquina, não se pode agora desativá-la, o que fatalmente ocorreria se a medicina preventiva diminuísse o número de doentes. É semelhante a aumentar o contingente e equipar cada vez mais a polícia para acabar com a violência. O máximo que se pode conseguir é transformar a sociedade numa praça de guerra, com dois exércitos - policiais e bandidos - a se entrematarem furiosamente.

Parece que já nos encontramos perto dessa situação no que se refere à saúde pública. De um lado uma estrutura gigantesca de atenção à saúde com todos os vícios e problemas acarretados pelo seu exagerado tamanho. Do outro, um número cada vez maior de pessoas doentes, que buscam - e raramente conseguem - tratamento médico adequado.

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